Do Youtube à escola: transformações nas práticas docentes dos professores de história, provocadas pelo acesso de estudantes a conteúdos de história veiculados por youtubers
From Firenze University Press Journal: Media Education
Martha Kaschny Borges, Universidade do Estado de Santa Catarina
Tales Hiroshi Medeiros Kamigouchi, Universidade do Estado de Santa Catarina
O Youtube é uma plataforma especializada no compartilhamento de vídeos na internet, a qual é utiliza-da para muitas finalidades, dentre elas: entretenimento; promoção pessoal; divulgação de conteúdo amador e profissional; e até mesmo, para fins lucrativos por meio da monetização. Em outras palavras, “cada um desses participantes chega ao Youtube com seus propósitos e objetivos e o modelam coletivamente como um sistema cultural dinâmico: o Youtube é um site de cultura participativa” (Burgess & Green, 2009, p. 14).
Dentre a imensa pluralidade de vídeos produzidos e compartilhados por essa plataforma, encontram-se também produções que abordam conteúdos previstos pelos parâmetros curriculares das escolas. Muitos são produzidos e compartilhados, inclusive, por professores e/ou ex-professores de escolas em busca de visibilidade, retorno financeiro com a monetização, ou até mesmo, pela simples iniciativa de poder colaborar com outros usuários da plataforma. Há também outros produtores de conteúdo cujo foco dos vídeos compartilhados são temas do momento, pre-sentes nos compartilhamentos online das redes sociais. Os vídeos, muitas vezes, são elaborados de maneira simples, sem grandes produções gráficas, a partir de web-cams; e não raramente trazem uma pessoa comentando um tema sobre seu próprio ponto de vista.
O descentralismo oportunizado pela interatividade da Web 2.0, parece ser um ingrediente importante dessa nova relação de poder legitimada pela dinâmica própria das redes sociais, ou, como aponta Primo, “nestes casos importa menos a formação especializada de membros individuais. A credibilidade e relevância dos materiais publicados é reconhecida a partir da constante dinâmica de cons-trução e atualização coletiva (Primo, 2007, p. 6).
Quando os temas comentados e compartilhados por youtubers tratam de conteúdos previstos nos livros didáticos de História, necessariamente ocorrem desdobramentos em sala de aula. Se majoritariamente os profissionais da educação estiveram submetidos ao ensino institucional que os comprometeram a exercer a docência nos pilares da ética e da moral, os novos formadores de opinião na Internet não necessariamente estão alinhados aos mesmos princípios. Como bem alertam as historiadoras Schmidt e Cainelli quanto à função do professor de História, “apesar de não se poder modificar o passado, ao interpretá-lo e narrá-lo à luz das lutas individuais e coletivas, pode-se levantar questões sobre o presente e pensar o futuro a partir dos princípios da liberdade, democracia e cidadania” (Schmidt & Cainelli, 2004, p. 70).
Como defendem as autoras Andrea Lapa, Isabel Coelho e Simone Schwertl, a comunicação propiciada pelas redes sociais se constitui enquanto espaço público educador, ou, melhor dizendo: “no mundo contemporâneo, um espaço público que merece destaque são as redes sociais, que devem ser estudadas no seu potencial de serem (ou se tornarem) esferas públicas, portanto, espaços de possibilidade para a formação do sujei-to” (Lapa et al., 2015, p. 8). As redes sociais são espaços constituídos por múltiplos aspectos que contribuem para a formação dos sujeitos, uma vez que neles as pessoas constituem voz ativa ao mesmo passo em que também são ouvintes; se representam e dialogam em condições de igualdade (Lapa et al., 2015). Com as redes sociais desempenhando um papel de espaço público educador, e buscando uma aproximação com a TAR5 e o entendi-mento que circunda a concepção de controvérsia6, configurou se a questão central desta pesquisa.
DOI: https://doi.org/10.36253/me-9093
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